Apesar das críticas e limitações, a COP continua a ser o epicentro das negociações climáticas globais. A COP 28, sediada em Dubai, foi vista por muitos como a conferência climática mais impactante desde a COP 21, em Paris. Contudo, críticas persistem em relação à lentidão das mudanças e à influência contínua do lobby da indústria do petróleo.
O anúncio de um fundo de perdas e danos na sessão de abertura gerou debates intensos. Enquanto alguns céticos viram isso como uma estratégia para iludir os defensores climáticos, outros interpretaram como uma tentativa de impulsionar as negociações.
O texto final reconheceu a necessidade de trilhões de dólares em investimentos para atingir os objetivos do Acordo de Paris. Entretanto, a omissão de detalhes sobre contribuições e prazos deixou em aberto discussões sobre o financiamento da ação climática, impedindo a implementação de medidas importantes de perdas e danos, mitigação e adaptação.
O papel dos combustíveis fósseis na crise climática e na economia moderna é inegável, tornando a discussão sobre a redução de seu uso um dos desafios mais complexos. A inclusão da palavra “transição” na utilização desses combustíveis no texto final em Dubai foi celebrada como um primeiro passo na direção certa.
Contudo, o verdadeiro teste reside nas ações concretas, não nas palavras acordadas pelos países. Quando os sauditas tentaram bloquear a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis, alguns argumentaram que eles estavam sendo honestos ao afirmar que não têm a intenção de parar de explorar esses combustíveis. Em contrapartida, muitos outros países estavam sendo desonestos em Dubai; embora tenham pressionado pela eliminação progressiva, mostram poucos sinais de efetuar essa transição ou mesmo reduzir a produção de combustíveis fósseis. Isso alimenta as críticas de greenwashing, em que países e empresas promovem as suas credenciais climáticas sem realizar mudanças substanciais.
Por trás das complexas negociações diplomáticas, dois compromissos feitos na COP 28 merecem uma análise mais detalhada por ter uma relação direta com o setor produtivo privado: o compromisso de triplicar a capacidade global de energia renovável até 2030 e o foco na melhoria da eficiência energética.
Falando em setor privado, a presença das empresas nas conferências do clima vem crescendo nos últimos anos. Entretanto, é necessária uma reflexão mais profunda sobre o perfil dos profissionais das organizações que estão sendo envolvidos. Observa-se que as empresas são representadas, na maioria das vezes, apenas pelos seus especialistas em sustentabilidade, o que faz sentido. Contudo, é raro ver a participação dos representantes com poder de decisão, como CEOs, CMOs e CFOs, e também representantes das áreas de marketing e de suas agências de propaganda.
Em um evento onde as ações são marcadas pelo incrementalismo ou lentidão, a integração do setor privado com a pauta ambiental pode ser crucial para dar ritmo às mudanças na sociedade. É essencial que as empresas e suas equipes responsáveis por pensar o produto, a comunicação e por atender às necessidades do consumidor também participem dos encontros sobre o clima, não apenas para criar produtos verdes com as melhores práticas ambientais, mas também para ajudar a expandir as discussões na COP para além do tecnicismo climático. Chegou a hora de se discutir nas COPs como a construção de um mercado consumidor de massa verde pode ser uma das soluções ambientais mais efetivas. Isso não aconteceu em Dubai, na realidade em nenhuma das últimas 28 COPs.