Criptomoedas: o dilema ético das gerações Y e Z

As criptomoedas têm conquistado a atenção de investidores em todo o mundo, graças ao seu potencial de lucratividade, natureza descentralizada e inovação tecnológica. Para muitos, elas representam uma oportunidade para diversificar seus portfólios. Entretanto, esse entusiasmo não está isento de dilemas. Em um mundo que precisa focar na sustentabilidade e na ética dos investimentos, as moedas digitais emergem como uma questão controversa. Embora tenham revolucionado as finanças e a tecnologia, elas suscitam sérias preocupações em relação ao meio ambiente e à responsabilidade social.

Nesse contexto, é surpreendente observar que o perfil dos investidores em criptomoedas seja predominantemente jovem. Embora investidores de todas as idades participem desse mercado, é mais comum encontrar indivíduos mais jovens, principalmente da geração Y (millennials) e geração Z, que estão mais familiarizados com tecnologia e criptomoedas.

Os óbvios problemas ambientais e éticos parecem não representar um conflito ou dilema para eles. Isso aparenta ser uma contradição em relação às expectativas em torno das novas gerações, que normalmente são associadas como mais preocupadas com as questões ambientais.Contudo, essas expectativas parecem não encontrar eco no mundo real.

Um exemplo é o Bitcoin, frequentemente chamado de “ouro digital”. Trata-se de uma forma de moeda virtual descentralizada que utiliza a tecnologia blockchain para facilitar transações financeiras. No entanto, seu processo de mineração, a validação de transações, tem um custo ambiental significativo. A mineração de Bitcoin exige quantidades enormes de energia, sobretudo de fontes não renováveis, como carvão e gás natural. Além disso, essa atividade requer alta eficiência operacional, resultando na substituição frequente de equipamentos, o que implica em uma demanda intensiva por recursos materiais.

Os dados indicam que a mineração de Bitcoin consome mais energia do que muitos países inteiros, gerando emissões de carbono comparáveis às de nações industrializadas. Um exemplo ilustrativo de como as criptomoedas podem afetar o processo de descarbonização é o caso do Nubank, uma das principais fintechs do Brasil. De acordo com o Relatório ESG da empresa, suas emissões de carbono tiveram um aumento expressivo de 140% no ano de 2022, com o negócio de criptomoedas sendo apontado como um dos principais responsáveis por esse aumento.

Além das questões ambientais, o Bitcoin apresenta desafios éticos significativos. Sua característica fundamental é a descentralização das operações e o anonimato, o que permite transferências de recursos sem identificação e sem intermediários em uma escala global. No entanto, essa mesma característica o torna suscetível ao uso indevido, como lavagem de dinheiro, corrupção e financiamento do terrorismo. Além disso, a extrema volatilidade do mercado de criptomoedas também levanta questões sobre a manipulação do mercado e a proteção dos investidores.

É possível que o exemplo da relação dos millennials e da geração Z com os investimentos em criptomoedas seja apenas mais uma demonstração de que generalizações sobre o comportamento dos jovens muitas vezes não se aplicam à realidade. Isso ressalta a importância de fornecer educação e informações adequadas às novas gerações, preparando-as para tomar decisões ambientais e éticas corretas. Este é um desafio que se estende a todos nós. É uma ilusão achar que as novas gerações estão preparadas para tomar decisões e mudar hábitos em relação aos desafios ambientais e éticos que estamos vivendo.