O sistema multilateral encontra-se atualmente abalado tanto em suas bases quanto em sua capacidade operacional. Após décadas de globalização e integração, o mundo parece estar se fragmentando novamente, com o retorno do protecionismo, das sanções unilaterais, da retirada de tratados e até mesmo da coerção militar e econômica.
Neste contexto, a questão dos problemas ambientais modernos assume uma dimensão ainda maior. A degradação ambiental não reconhece fronteiras nacionais e exige uma cooperação internacional efetiva para ser enfrentada.
A proteção ambiental ideal demanda a criação de instituições ambientais com o poder de negociar acordos ambientais multilaterais. Essas instituições devem trabalhar no sentido de fortalecer o direito ambiental e incorporar preocupações ambientais em outras áreas da política internacional, como comércio e finanças.
Embora as Nações Unidas (ONU) são frequentemente citadas como um fórum de cooperação internacional, sua eficácia tem sido questionada devido à excessiva burocracia, à falta de impacto visível e às dificuldades em mobilizar recursos. Infelizmente, na maioria das vezes, a ONU funciona bem em questões que não envolvem disputas políticas significativas, como os programas da Unicef e Unesco, por exemplo.
Isso se torna evidente nas conferências das partes (COP), onde a maioria das decisões não tem força de lei e consiste apenas em declarações de intenção. O Acordo de Paris é um exemplo evidente, com apenas 15% dos 149 países que assumiram compromissos de descarbonização efetivamente transformando esses compromissos em lei. A maioria permanece apenas como promessas vazias, o que gera preocupações, como o caso da China, que, apesar de anunciar um compromisso de atingir emissões líquidas zero até 2060, ainda possui uma das matrizes energéticas mais poluentes do planeta.
A mesma lógica se aplica aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que se tornaram um tema comum em relatórios e discursos corporativos. Essa agenda foi estabelecida como um plano de ação abrangente para melhorar a qualidade de vida global, promovendo prosperidade nas dimensões econômica, social e ambiental. É difícil se opor a uma agenda como essa. No entanto, a implementação prática desses objetivos é o verdadeiro desafio, especialmente para o mundo corporativo, já que os ODS consistem em 17 metas distribuídas em 169 objetivos, tornando-os às vezes abstratos e de difícil realização.
É importante ressaltar que esse tsunami de metas não veio acompanhado por recursos adequados, tornando-se mais um conjunto de intenções do que uma ação efetiva. Sem esquecer que a abordagem centralizada na definição desses objetivos negligenciou as realidades individuais e locais. Relatórios de acompanhamento sobre os ODS indicam que, na prática, a maioria das metas está regredindo, fazendo pouco progresso, permanecendo estagnada, enfrentando ameaças ou carecendo de dados adequados para uma análise eficaz.
Além disso, é importante reconhecer que essas estruturas especializadas, embora desempenhem um papel crucial em pesquisas e negociações globais, muitas vezes carecem de conhecimento sobre o mundo dos negócios e, o que é mais importante, sobre comunicação. Isso prejudica a evolução da agenda dos ODS nas empresas. Contudo, o seu fracasso coloca maior pressão sobre o mundo corporativo, que precisará adotar uma abordagem mais pragmática e eficiente para essas questões, visto que o mundo real demanda ação imediata e concreta. Infelizmente, a verdade é que a situação atual está longe de ser satisfatória. O rei está nu.